Arte (do termo latino ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquitetura, desenho, escultura, pintura, escrita, música, dança, teatro e cinema, em suas variadas combinações. O processo criativo se dá a partir da percepção com o intuito de expressar emoções e ideias, objetivando um significado único e diferente para cada obra.
Definição
O principal problema na definição do que é arte é o fato de que esta definição varia com o tempo e de acordo com as várias culturas humanas. Devemos ter em mente que a própria definição de arte é uma construção cultural variável e sem significado constante. Muito do que hoje uma cultura ou grupo chama de arte não era ou não é considerado como tal por culturas ou grupos diferentes daqueles onde foi produzida, e até numa mesma época e numa mesma cultura pode haver múltiplas acepções do que é arte. As sociedades pré-industriais em geral não possuem ou possuíam sequer um termo para designar arte. Numa visão muito simplificada, a arte está ligada principalmente a um ou mais dos seguintes aspectos:
- a manifestação de alguma habilidade especial,
- a criação artificial de algo pelo ser humano;
- o desencadeamento de algum tipo de resposta no ser humano, como o senso de prazer ou beleza;
- a apresentação de algum tipo de ordem, padrão ou harmonia;
- a transmissão de um senso de novidade e ineditismo;
- a expressão da realidade interior do criador;
- a comunicação de algo sob a forma de uma linguagem especial;
- a noção de valor e importância;
- a excitação da imaginação e a fantasia;
- a indução ou comunicação de uma experiência-pico;
- coisas que possuam reconhecidamente um sentido;
- coisas que deem uma resposta a um dado problema.
Ao mesmo tempo, mesmo que uma dada atividade seja considerada arte de modo geral, há muita inconsistência e subjetividade na aplicação do termo. Por exemplo, é hábito, entre os ocidentais, chamar de arte o canto operístico, mas cantar despreocupadamente enquanto trabalhamos muitas vezes não é tido como arte. Pode haver, assim, uma série de outros parâmetros que as culturas empregam para separar o que consideram arte do que não consideram.
Mesmo que se possa, em tese, estabelecer parâmetros gerais válidos consensualmente, a análise de cada caso pode ser extraordinariamente complexa e inconsistente. Num contexto geográfico, se a cultura ocidental chama de arte a ópera, possivelmente uma cultura não ocidental poderia considerar aquele tipo de canto muito estranho. Na perspectiva histórica, muitas vezes um objeto considerado artístico em uma determinada época pode ser considerado não artístico em outra.
História do conceito
No ocidente, um conceito geral de arte, ou seja, aquilo que teriam em comum coisas tão distintas como, por exemplo, um madrigal renascentista, uma catedral gótica, a poesia de Homero, os autos de mistério medievais, um retábulo barroco, só começou a se formar em meados do século XVIII, embora a palavra já estivesse em uso há séculos para designar qualquer habilidade especial.
Na Antiguidade clássica, uma das principais bases da civilização ocidental e a primeira cultura que refletiu sobre o tema, considerava-se arte qualquer atividade que envolvesse uma habilidade especial: habilidade para construir um barco, para comandar um exército, para convencer o público em um discurso, em suma, qualquer atividade que se baseasse em regras definidas e que fosse sujeita a um aprendizado e desenvolvimento técnico. Em contraste, a poesia, por exemplo, não era tida como arte, pois era considerada fruto de uma inspiração.
Platão definiu arte como uma capacidade de fazer coisas de modo inteligente através de um aprendizado, sendo um reflexo da capacidade criadora do ser humano; Aristóteles a definiu como uma disposição de produzir coisas de forma racional, e Quintiliano a entendia como aquilo que era baseado em um método e em uma ordem.
Já Cassiodoro destacou seu aspecto produtivo e ordenado, assinalando três funções para ela: ensinar, comover e agradar ou dar prazer.
Essa visão atravessou a Idade Média, mas, no Renascimento, iniciou-se uma mudança, separando-se os ofícios produtivos e as ciências das artes propriamente ditas e incluindo-se, pela primeira vez, a poesia no domínio artístico. A mudança foi influenciada pela tradução para o italiano da Poética de Aristóteles e pela progressiva ascensão social do artista, que buscava um afastamento dos artesãos e artífices e uma aproximação dos intelectuais, cientistas e filósofos. O objeto artístico passou a ser considerado tanto fonte de prazer como meio de assinalar distinções sociais de poder, riqueza e prestígio, incrementando-se o mecenato e o colecionismo. Começaram a aparecer também diversos tratados sobre as artes, como o De pictura, De statua e De re aedificatoria, de Leon Battista Alberti, e os Comentários de Lorenzo Ghiberti. Ghiberti foi o primeiro a periodizar a história da arte, distinguindo a arte clássica, a arte medieval e a arte renascentista.
O Renascimento e o Maneirismo assinalam o início da arte moderna. O conceito de beleza se relativizou, privilegiando-se a visão pessoal e a imaginação do artista em detrimento do conceito mais ou menos unificado e de índole científica do Renascimento. Também se deu valor ao fantástico e ao grotesco. Para Giordano Bruno, havia tantas artes quantos eram os artistas, introduzindo o conceito de originalidade, pois, para ele, a arte não tem normas, não se aprende e procede da inspiração.
No século XVIII, começou a se consolidar a estética como um elemento-chave para a definição de arte como hoje a entendemos – a despeito da vagueza e inconsistências do conceito. Até então, toda a arte do ocidente estava indissociavelmente ligada a uma ou mais funções definidas, ou seja, era uma atividade essencialmente utilitária: servia para a transmissão de conhecimento, para a estruturação e decoração de rituaise festividades, para a invocação ou mediação de poderes espirituais ou mágicos, para o embelezamento de edifícios, locais e cidades, para a distinção social, para a recordação da história e a preservação de tradições, para a educação moral, cívica, religiosa e cultural, para a consagração e perpetuação de valores e ideologias socialmente relevantes, e assim por diante.
Esta mudança de paradigma estava ligada a transformações culturais desencadeadas pelo cientificismo e pelo iluminismo. Estas correntes de pensamento passaram a defender a tese de que a arte não era uma ciência, não podia descrever com exatidão a realidade, e por isso não poderia ser um veículo adequado para o conhecimento verdadeiro. Não sendo uma ciência, a arte passou para a esfera da emoção, da sensorialidade e do sentimento. A própria origem da palavra “estética” deriva de um termo grego que significa “sensação”.
Em trabalhos de Jean-Baptiste Dubos, Friedrich von Schlegel, Arthur Schopenhauer, Théophile Gautier e outros, nasceu o conceito de arte pela arte, onde ela tinha um fim em si mesma, despojando-a de toda a sua antiga funcionalidade e utilidade prática e associações com a moral. Ao mesmo tempo em que isso abriu um novo e rico campo filosófico, gerou dificuldades importantes: perdeu-se a capacidade de se entender a arte antiga em seu próprio contexto, onde ela era toda funcional – um testemunho desta tendência é a proliferação de museus no século XIX, instituições onde todos os tipos de arte são apresentados fora de seu contexto original -, e criaram-se conceitos inteiramente baseados na subjetividade, tornando cada vez mais difícil encontrar-se pontos objetivos em comum que pudessem ser aplicados a qualquer tipo de arte, tanto para defini-la quanto para valorá-la ou interpretar seu significado.
O esteticismo foi um dos elementos teóricos básicos para a emergência do Romantismo, que rejeitou o utilitarismo da arte e deu um valor principal à criatividade, à intuição, à liberdade e à visão individuais do artista, erigindo-o ao status de demiurgo e profeta e fomentando, com isso, o culto do gênio. Por outro lado, o esteticismo ofereceu uma alternativa para a descrição de aspectos do mundo e da vida que não estão ao alcance da ciência e da razão. Charles Baudelaire foi um dos primeiros a analisar a relação da arte com o progresso e a era industrial, prefigurando a noção de que não existe beleza absoluta, mas que ela é relativa e mutável de acordo com os tempos e com as predisposições de cada indivíduo. Baudelaire acreditava que a arte tinha um componente eterno e imutável – sua alma – e um componente circunstancial e transitório – seu corpo. Este dualismo nada mais do que expressava a dualidade inerente ao homem em seu anelo pelo ideal e seu enfrentamento da realidade concreta.
Em que pese a grande influência do esteticismo, cujo corolário apareceria no início do século XX na forma do abstracionismo, uma apoteose do individualismo artístico, houve correntes que o combateram. Hippolyte Taine elaborou uma teoria de que a arte tem um fundamento sociológico, aplicando-lhe um determinismo baseado na raça, no contexto social e na época. Reivindicou, para a estética, um caráter científico, com pressupostos racionais e empíricos. Jean Marie Guyau apresentou uma perspectiva evolucionista, afirmando que a arte está na vida e evolui com ela, e assim como a vida se organiza em sociedades, a arte deve ser um reflexo da sociedade que a produz. A estética sociológica teve associações com os movimentos políticos de esquerda, especialmente o socialismo utópico, defendendo, para a arte, o retorno a uma função social, contribuindo para o desenvolvimento das sociedades e da fraternidade humana, como se percebe nos trabalhos de Henri de Saint-Simon, Lev Tolstoi e Pierre Joseph Proudhon, entre outros. John Ruskin e William Morris denunciaram a banalização da arte causada pelo esteticismo e pela sociedade industrial, e defenderam a volta ao sistema corporativo e artesanal medieval.
A Psicologia para explicar a Arte
Na mesma época, a arte começou a ser estudada sob o ponto de vista psicológico e semiótico através da contribuição de Sigmund Freud. Ele declarou que a arte poderia ser uma forma de representação de desejos e de sublimação de pulsões irracionais reprimidas. Disse que o artista era um narcisista, e que as obras de arte podiam ser analisadas da mesma forma que os sonhos, os símbolos e as doenças mentais. Continuou nessa linha seu discípulo Carl Jung, que introduziu o conceito de arquétipo na análise artística. Outra novidade foi introduzida por Wilhelm Dilthey, considerando arte e vida serem uma unidade. Prefigurando a arte contemporânea, reconheceu a importância da reação do público na definição do que é um objeto artístico, o que instaurava uma espécie de anarquia do gosto, inaugurando a estética cultural. Reconheceu, também, que a época assinalava uma mudança social e uma nova interpretação da realidade. Ao artista, caberia intensificar nossa visão de mundo em uma obra coerente e significativa.
As Escolas de Arte
Na primeira metade do século XX, conceitos inovadores foram introduzidos pela Escola de Frankfurt, destacando-se Walter Benjamin e Theodor Adorno, estudando os efeitos da industrialização, da tecnologia e da cultura de massa sobre a arte. Benjamin analisou a perda da aura do objeto artístico na sociedade contemporânea, e Adorno refletiu que a arte não é um reflexo mecânico da sociedade que a produz, pois a arte expressa o que não existe e indica a possibilidade de transformação e transcendência. Representante do pragmatismo, John Dewey definiu a arte como “a culminação da natureza”, defendendo que a base da estética é a experiência sensorial. A atividade artística seria uma consequência da atividade natural do ser humano, cuja forma organizativa depende dos condicionamentos ambientais em que se desenvolve. Assim, arte seria o mesmo que “expressão”, onde fins e meios se fundem em una experiência agradável. Já Ortega y Gasset apontou o caráter elitista e a desumanização da arte de vanguarda, devido ao seu hermetismo, ao repúdio da imitação da natureza e à perda da perspectiva histórica. Na escola semiótica, Luigi Pareyson elaborou uma estética hermenêutica, onde arte é a interpretação da verdade. Para ele, a arte é “formativa”, ou seja, expressa uma forma de fazer que, ao mesmo tempo, inventa sua própria linguagem e seus meios. Assim, a arte não seria o resultado de um projeto predeterminado, mas simplesmente encontraria o resultado no processo de fazer. Pareyson influenciou a chamada Escola de Turim, que desenvolveu o conceito ontológico de arte. Umberto Eco, seu maior expoente, afirmou que a obra de arte só existe em sua interpretação, na abertura de múltiplos significados que pode ter para o espectador.
Chegando-se aos meados do século XX, o assunto se tornou tão complexo, volátil e subjetivo que muitos estudiosos abandonaram de todo a ideia de que a definição do que é arte é de alguma forma possível. A título de exemplo, citem-se algumas opiniões: Morris Weitz declarou que “o próprio caráter aventuroso e expansivo da arte, suas constantes mutações e novidades, tornam ilógico que estabeleçamos qualquer conjunto de propriedades definidas”. Robert Rosenblum disse que “hoje em dia a ideia de definirmos arte é tão remota que não acredito que alguém teria coragem de fazê-lo”, e Wladyslaw Tatarkiewicz afirmou que “nosso século chegou à conclusão de que conseguirmos uma definição abrangente do que é arte é não apenas algo dificílimo, como impossível”. Essas visões, porém, não impediram que outros críticos lançassem opiniões diferentes, crendo ser possível uma definição. Alguns delas contornaram o problema central da definição propriamente dita, e estabeleceram parâmetros externos para definir o fato artístico, recorrendo à consagração institucional, à autoridade, ou à resposta do público ou de pessoas consideradas peritas. Um exemplo é a definição de George Dickie: “um objeto artístico é em primeiro lugar um artefato, e em segundo, é um conjunto de aspectos que legitimou sua proposta de merecer atenção especial de alguma pessoa ou pessoas agindo em nome de alguma instituição social”. Às vezes, se recorre à sua localização e ao contexto cultural, como na declaração de Thomas McEvilley, dizendo que “é arte o que está num museu… Parece bem claro que hoje em dia mais ou menos qualquer coisa pode ser chamada de arte. A questão é: ela foi chamada de arte pelo ‘sistema de arte’? Em nosso século, isso é tudo o que é preciso para definir arte”. Na mesma linha de ideias, Robert Hughes disse que algo é arte “se foi criado com o fim expresso de ser considerado como tal e foi colocado em um contexto em que é visto como tal”. Segundo a definição da Encyclopædia Britannica, arte é aquilo que é criado deliberadamente pelo homem como uma expressão de habilidade ou da imaginação.
Materia Por Paulo Varella, Art Ref.
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